segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Moção para a II Conferência Municipal de Cultura

Moção lida publicamente na presença da Cecília (Representante do Ministério da Cultura e do Secretário de Cultura de São Paulo Augusto Calil) na II Conferência Municipal de Cultura da Cidade de São Paulo.

Moção para a II Conferência Municipal de Cultura

Movimento 27 de Março

Poucos homens atingem seu tempo!

Pode um homem contemporâneo perceber o que está acontecendo de realmente importante em sua época? Às vezes, o que tem de importante não aparece no momento em que ocorre. É preciso que muitos outros também reconheçam aquilo como importante e, para isso, precisam saber, ter acesso àquilo que se diz importante.

A II Conferência Municipal de Cultura da cidade de São Paulo foi pensada e construída pela Prefeitura Municipal de São Paulo sem o tempo e os cuidados necessários. Isso tem conseqüências!

Sob pena de ficar fora do Sistema Nacional de Cultura, dos benefícios da PEC 150 e das parcerias propostas pelo governo federal, através de leis que hoje tramitam no Congresso Nacional, assumiu a realização da Conferência e convidou para a empreitada algumas entidades representativas dos trabalhadores da cultura da cidade.

Triste resultado!

A política da fome a que somos submetidos escancara suas fraquezas.

Qual é a história da Conferência Municipal de Cultura?

A I Conferência aconteceu em maio de 2004, foi precedida por duas pré-conferências em que participaram instituições que atuam no campo da cultura e nove pré-conferências territoriais, ocorridas nas mais diversas regiões da cidade. Milhares de pessoas se envolveram num debate democrático que levava o sonho de orientar, dar rumos à política cultural do município, a partir de necessidades reais. Foi nessa conferência que se consolidou o Conselho Municipal de Cultura, antiga reivindicação dos movimentos sociais. Este Conselho foi desativado desde que o atual secretário de cultural está no cargo. Naquele momento, conseguíamos perceber a importância do nosso gesto no sentido de construir uma cidade mais justa. Pensávamos que havíamos construído uma estrutura sólida que garantiria a continuidade do processo, mas não foi isso que aconteceu.

A II Conferência Municipal de Cultura desconsiderou toda esta rica história! Desrespeitou todas as discussões anteriores e os avanços porque pensa o mundo a partir de uma lógica míope e pragmática de mercado.

A Comissão Organizadora estabeleceu o limite de 650 participantes que poderiam se inscrever pela internet. Encerrou as inscrições antes do prazo definido por ela mesmo, e o resultado foi participação reduzida que tivemos.

As sugestões dos grupos de trabalho (que se formaram de maneira improvisada), foram repetidamente recusadas pelo secretário. Para corresponder às rígidas estruturas propostas pelo governo federal foram convidados debatedores “sob medida”, desrespeitando uma saudável e necessária pluralidade de opiniões. A coordenação dos trabalhos, em parte feita pelo próprio secretário, foi, em muitos momentos, autoritária, resultado do seu descontentamento com a obrigação de realizar esta tarefa democrática.

A escolha do local da Conferência, o Parque de Convenções do Anhembi, também parece ter sido “sob medida”. O acesso é difícil para aqueles que precisam ou optam pelo transporte coletivo. Os preços, da lanchonete ao estacionamento, são fora da realidade dos trabalhadores da cultura. A divulgação da Conferência, dada a importância e o tamanho da cidade de São Paulo, foi largamente insuficiente.

Esta Conferência foi um triste caldeirão com caldo amargo, onde o tempero principal foi a frustração. Os desejos de coletivos culturais, reprimidos durante cinco anos, foram condenados ao silêncio.

Recusamos a chantagem a que estamos sendo submetidos: aceitar ou... aceitar este estado de coisas. Repudiamos com veemência a organização e a condução dos trabalhos desta conferência!

Dois dias de trabalho simplesmente para votar o regimento. E o tempo para as dicussões diminuído drasticamente.

Pela investigação e pela análise do mundo objetivo, nossa arte pode contribuir para a mudança de consciência no nosso país, mas o poder público não pensa assim.

É preciso mostrar a necessidade de transformar a sociedade atual, é necessário mostrar a possibilidade dessa mudança e os meios para mudá-la.

Esta é uma Moção de Repúdio a todos os atos inconseqüentes promovidos na preparação e na execução da II Conferência Municipal de Cultura. Repúdio a todas as manobras, repúdio às palavras ríspidas, ao desrespeito aos movimentos organizados.

Trabalhadoras e trabalhadores em cultura da cidade de São Paulo

M27M

25 de outubro de 2009

Assinam também essa moção:

Fórum H2O Municipal SP

Associação de Arte artesanato e Cultura Karl

Roda do Fomento

APOESP (Aposentados Sub-Sede Norte) Movimento MMC

Mobilização Dança

Movimento Negro Gilson Negão

Arte pela Barbárie

Congresso Cultural de República do Brasil África Sustentável

Instituto CECAP Centro de Cultura Artística Popular

CNAB – Congresso Nacional Afro Brasileiro

Primado do Brasil Umbanda e Candomblé

Instituto Oromilade

CENARAB

Flo-Friendes Of Life Organization

AMEJAEB – Entidade Social (Dirce Lua)

GRCES – Academia Saída Frente (Dirce Lua)

Goteira Esporte Clube (Butantã)

_________

Segue texto do Marcelino Freire para reflexão:


TEXTO: DA PAZ

por Marcelino Freire *

Eu não sou da paz.

Não sou mesmo não. Não sou. Paz é coisa de rico. Não visto camiseta nenhuma, não, senhor. Não solto pomba nenhuma, não, senhor. Não venha me pedir para eu chorar mais. Secou. A paz é uma desgraça.

Uma desgraça.

Carregar essa rosa. Boba na mão. Nada a ver. Vou não. Não vou fazer essa cara. Chapada. Não vou rezar. Eu é que não vou tomar a praça. Nessa multidão. A paz não resolve nada. A paz marcha. Para onde marcha? A paz fica bonita na televisão. Viu aquele ator?

Se quiser, vá você, diacho. Eu é que não vou. Atirar uma lágrima. A paz é muito organizada. Muito certinha, tadinha. A paz tem hora marcada. Vem governador participar. E prefeito. E senador. E até jogador. Vou não.

Não vou.

A paz é perda de tempo. E o tanto que eu tenho para fazer hoje. Arroz e feijão. Arroz e feijão. Sem contar a costura. Meu juízo não está bom. A paz me deixa doente. Sabe como é? Sem disposição. Sinto muito. Sinto. A paz não vai estragar o meu domingo.

A paz nunca vem aqui, no pedaço. Reparou? Fica lá. Está vendo? Um bando de gente. Dentro dessa fila demente. A paz é muito chata. A paz é uma bosta. Não fede nem cheira. A paz parece brincadeira. A paz é coisa de criança. Tá uma coisa que eu não gosto: esperança. A paz é muito falsa. A paz é uma senhora. Que nunca olhou na minha cara. Sabe a madame? A paz não mora no meu tanque. A paz é muito branca. A paz é pálida. A paz precisa de sangue.

Já disse. Não quero. Não vou a nenhum passeio. A nenhuma passeata. Não saio. Não movo uma palha. Nem morta. Nem que a paz venha aqui bater na minha porta. Eu não abro. Eu não deixo entrar. A paz está proibida. A paz só aparece nessas horas. Em que a guerra é transferida. Viu? Agora é que a cidade se organiza. Para salvar a pele de quem? A minha é que não é. Rezar nesse inferno eu já rezo. Amém. Eu é que não vou acompanhar andor de ninguém. Não vou. Não vou.

Sabe de uma coisa: eles que se lasquem. É. Eles que caminhem. A tarde inteira. Porque eu já cansei. Eu não tenho mais paciência. Não tenho. A paz parece que está rindo de mim. Reparou? Com todos os terços. Com todos os nervos. Dentes estridentes. Reparou? Vou fazer mais o quê, hein?

Hein?

Quem vai ressuscitar meu filho, o Joaquim? Eu é que não vou levar a foto do menino para ficar exibindo lá embaixo. Carregando na avenida a minha ferida. Marchar não vou, ao lado de polícia. Toda vez que vejo a foto do Joaquim, dá um nó. Uma saudade. Sabe? Uma dor na vista. Um cisco no peito. Sem fim. Ai que dor! Dor. Dor. Dor.

A minha vontade é sair gritando. Urrando. Soltando tiro. Juro. Meu Jesus! Matando todo mundo. É. Todo mundo. Eu matava, pode ter certeza. A paz é que é culpada. Sabe, não sabe?

A paz é que não deixa.

2 comentários:

  1. CONCORDO PLENAMENTE. APÓS MEUS PROTESTOS NO MICROFONE, INFORMANDO DAS DIFICULDADES EM QUE NÓS QUE REPRESENTAMOS AS ENTIDADES DE BAIRROS, ESCOLAS DE SAMBA E FUTEBOL, DISSE CLARAMENTE QUE: EU ESTAVA NESTA CONFERENCIA PARA BUSCAR UM SORO E APLICAR NO BUTANTA QUE ESTAVA DOENTE EM VARIOS ASPECTOS. Temos dificuldades de proporcionar Shows em praças públicas, não temos espaço para Projetos Culturais (somos castrados), deixam inclusive comunidade em peso a Deus dará, várias quadras esportivas vazias sem nenhum projeto. Nossa Entidade se propos a zelar e levar projetos culturais e esportivos e não conseguimos. Existe uma Quadra na Vila Borges (R. Ciro Monteiro, 66) que está sendo zelada pelos cachorros de Ruas, autorizados pelo assessor de esporte do Butanta. CACHORROS TEM PRIORIDADE e NÃO GENTE. Nossas crianças estão se drogando e fazendo sexo no local. Fiz de tudo, ficaram de entregar a Quadra para a nossa Associação e para a única Escola de Samba Oficial SAI DA FRENTE do Butanta para utilização do Espaço e sem sucesso. Quando vamos fazer um show para angariar alimentos, distribbuidr brinquedos para crianças, eles não autorizam as Praças Públicas, pedimos palco (eles pedem para solicitar ao Anhembi, carissimo, que a Comunidade não tem condições de pagar, bem como Banheiros Públicos, são locados. Nossos atletas (futebol de campo) não tem um campo para treino. FICAMOS FORA DA VIRADA ESPORTIVA e outras. E fui pega do lado de fora pelo coordenador da Casa de Cultura do Butanta, me falando palavras grotescas, que eu estava colocando o nome do Butanta na LAMA. Eu disse que falei simplesmente a verdade, e faltou mais para falar mas não deu tempo. Ouvi ofensas incabíveis, ele alegou que eu nunca frequentei os Eventos da Casa de Cultura. O que é uma inverdade pois o lançamento da minha segunda Obra, seria lá, o que não ocorreu pois o Sr. Paulo Maluf estaria lá e cancelaram em cima dahora a Programação dos Artistas que na épooca sairam na AGENDA CULTURAL DE SÃO PAULO, abraçou o lançamento do meu livro depois de muitos gritos foi a Biblioteca Monteiro Lobato. Ninguem da Subprefeitura quis me ouvir, pedi socorro para na epoca ao Secretario da Cultura. Tentei participar de sarais, onde eles deram destaques para os escritores contemplados (ou pagos?!?!). Tentei incluir grupos de Rappers, onde eles foram excluidos e dando destaques para aqueles pagos que não do Butanta (diversas vezes).~Nõs das Comunidades nem recebemos divulgação dos eventos ali existentes, ficam num grupo fechado que desconheço o procedimento e comportamento. E CONTINUA DIZENDO QUE: BUTANTÁ ESTÁ DOENTE !!! Doa a quem Doer, apenas defendo as Comunidades (os menos favorecidos) todos os meus shows foram beneficentes, sem nenhum fins lucrativos é puro social. O Palco nem existe (apenas umas folhas de madeiras). Mas quando eles querem promover os SHOWS DELES em qualquer local, aí o negócio SAI e com toda infraestrutura. Nossa Escola de Samba não recebe nenhum apoio Cultural, tem de rebolar para fazer bonito da Avenida com a Verba da Uesp, alguns diretores pedem ajuda para comerciantes da Região. É lastimável. Só este ano mudou 4 vezes de SUBPREFEITOS, nem ao certo sabemos a quem procurar! o pior são representantes de outras localidades que mal conhecem a estrutura física do Butanta. Vai aí meu protesto.
    Dirce Lua
    em nomes das Comunidades Carentes
    www.dircelua2010sp.wordpress.com
    www.amejaeb.blogspot.com
    www.goteira-esporteclube.blogspot.com
    www.saidafrentebutanta.blogspot.com

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  2. Falta dizer:
    a) que a moção foi aprovada por 99% do plenário ( os representantes do "poder público votaram contra.)
    b) Que os funcionários e membros da "comissão desorganizadora" da "II conferencia" ficaram muito magoados com o tom "grosseiro" da moção.
    c)Que o Secretário Culural Municipal Senhor Calil,em sua fala final, chamou para sí a responsabilidade pela criminosa desorganização, alegando falta de prazo e com um ditador que alega a "obediência devida" de seus generais isentou a sua "comissão de cúmplices" de culpa.
    d) EM TEMPO:

    Fortaleza realiza a III Conferência Municipal de Cultura

    Com o tema geral “Cultura, Diversidade, Cidadania e Desenvolvimento”, a III Conferência Municipal de Cultura de Fortaleza será realizada nos dias 27, 28 e 29 de outubro de 2009. Desde já, é o momento de afirmarmos a Cultura como política de Estado e não de governos. Daí a importância da participação de todos e todas no ciclo de debates preparatórios para a III Conferência Municipal de Cultura, que acontecem nos dias 17 e 28 de setembro e 1 e 14 de outubro.

    Etapa integrante da II Conferência Nacional de Cultura, a III Conferência Municipal de Cultura pretende discutir a cultura nos seus aspectos da memória, de produção simbólica, da gestão, da participação social e da plena cidadania; propor estratégias para o fortalecimento da cultura como centro dinâmico do desenvolvimento sustentável; promover o debate entre artistas, produtores, conselheiros, gestores, investidores e demais protagonistas da cultura, valorizando a diversidade das expressões e o pluralismo das opiniões

    Elcio de Souza
    ellas.ellas@yahoo.com.br

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